sábado, 31 de março de 2012

Leram-me as linhas da mão como se pudesse nelas partilhar alguma verdade.
Algum segredo.
Algum destino.
Avisaram-me que a vida é um suspiro, que o tempo é uma mentira descontrolada, que todas as realidades são falsas, que todos os olhos são suspeitos.
São muitas linhas, cruzam-se e intercalam-se.
Os olhos de quem as lê são mais profundos do que alguns oceanos.
Nunca leu poemas, só destinos.
Mas chamou-me poetisa e disse-me que o era pelo desgosto de andar sempre de olhos tristes e com a alma embargada em lágrimas.
Disse-me que tinha "mil histórias" para contar.
Pediu que me sentasse ao lado dela. Que parasse de pensar por um momento.
Perguntou se podia dar-me uma palavra carinhosa.
Se podia intrometer-se mais um bocadinho. Deixei que o fizesse.
"Ela sabe que és enorme, conhece-te melhor do que pensas e não esta nada desiludida contigo".
Levantou-se nas pernas cansadas, e foi-se embora devagar enquanto os meus olhos acompanhavam os seus passos curtos.
Ao longe acenou e pediu-me que me permitisse ser feliz.
Decidi nunca mais deixar que me lesses as linhas, fossem elas qual fossem, mais nenhumas para além das que escrevo.

sexta-feira, 16 de março de 2012

sabes como sou, prefiro escrever a falar e tenho quase tudo para te dizer.
primeiro, como sempre, ou quase sempre, eramos dois desconhecidos.
tu eras feliz sem mim, eu era feliz sem ti.
não existiamos, um para o outro e os rios continuavam a correr para o mar.
um dia sorriste para mim, disseste que devíamos sair mais, falar mais.
eu segui o teu conselho, deixei que me conhecesses, que ficasses ao meu lado por mais tempo.
descobrimos que conseguiamos falar de tudo, sem dramas, passando de assunto para assunto com a mesma naturalidade com se seguem as estações.
um dia sentaste-te ao meu lado, cantaste-me o refrão de uma música que fazia sentido e eu quis beijar-te.
não podia, eramos tudo um para o outro sem sermos absolutamente nada um ao outro.
continuaste a dizer-me "bom dia" e "boa noite", continuaste a ler-me poetas, a cantar-me músicas, a partilhar os teus dias comigo.
eu ia-me apaixonando por cada um dos teus cantinhos, até por aqueles que ainda não conhecia.
eramos mesmo completos e a nossa amizade parecia demasiado próxima para se chamar só de amizade.
eras um poeta, eu era uma louca. eramos felizes juntos.
um dia fomos ver o rio de outra cidade á espera quennos unisse, e uniu.
beijaste-me pela primeira vez no jardim mais alto da cidade, debaixo da maior sombra, da maior árvore, guardei isto como a minha melhor memória.
deste-me a mão tantas vezes.
conseguias ler-me o pensamento.
discutias comigo e irritava-me tanto e mesmo assim não conseguia deixar de gostar de ti.
um dia o sol pos-se e tu foste embora, porque para ti fazia mais sentido assim.
desde que altura é que eu deixei de fazer sentido?

segunda-feira, 12 de março de 2012

o que sei?

a praia é toda minha só porque é Inverno.
as pessoas estão longe, o pensamento das pessoas está longe.
hoje estou a pensar nas pessoas.
se todos caminhamos na mesma direcção porque que não tiramos os olhos do chão?
se todos sentimemos o amor e o ódio porque que escolhemos quase sempre o ódio?
se todos olhamos o espelho da mesma maneira porque que não encontramos o mesmo reflexo?
se todas as pessoas sonham porque algumas nos proíbem de sonhar?
se todos nós falamos sozinhos porque que nos proibimos de escutar?
se todos olhamos para as mãos vazias porque que elas continuam vazias?
porque?
porque que não dormimos quando devemos?
porque que só dormimos quando não podemos?
porque que há um lado esquerdo e um lado direito?
porque que o ano tem doze meses quando eu acho que devia ter treze?
se os gatos pretos dão azar, os brancos dão sorte?
sentei-me na areia molhada, é desconfortável como a vida.
estamos sempre a vive-la e a tentar ajustar-nos nela.
porque? somos loucos?
se aguentamos somos fortes, se desistirmos somos cobardes?
porque que um poeta é ridículo e um psiquiatra é credível?
não percebo quase nada, não sei nada, nada, nada.
contra mim tudo, a vida e os pontos de interrogação.
as insónias. ( malditas insónias)
porque que há dias tão curtos e noites tão longas?
o céu é enorme.
o infinito esta a arder.
o mar quer fugir de mim.
e para estar vivo, basta saber que não sabe quase nada sobre a vida que passamos os dias a viver h éspera do dia em que a vida acaba e que as vinte e uma gramas que pesa a alma, se solte de dentro de nós.

vou embora, quando o Sol se põe perco a lucidez.
chega.

domingo, 11 de março de 2012

eu estou sentada á porta de tua casa.
estou á espera que chegues, para termos uma longa conversa, como todas as noites.
olhas para mim como se eu valesse mais do que tu, como tivesse vindo de um universo paralelo feiti só por mim e para mim.
quando falo, tu páras, escutas-me.
ficas atento ao meu olhar.
abraças-me muitas vezes.
dizes que podiamos viajar pelo Mundo inteiro sem nunca nos desentendermos.
és diferente de mim.
tu desejas tudo, mesmo o que não sabes que é impossível desejar.
eu não peço mais do que estas esperas na porta de tua casa.
somos amigos há uma eternidade, há décadas.
quando será que um de nós vai perceber que já não é assim?
afinal crescemos, somos seres que amam e que desejam e que por isso já nos imaginamos vezes sem conta um na cama do outro.
parece vergonhoso, admitir tal coisa.
é errado.
mas olhares assim nos meus olhos também é errado.
querer ter o meu corpo enconstado ao teu, a maior parte do tempo, também é errado.
queria dizer-te mil vezes que gosto de ti.
dizer-te que penso em ti antes de dormir, porque és a peça mais importante da minha vida.
não gosto de escrever sobre amor, porque não entendo o amor.
sou demasiado fraca para saber lidar com todas as contradições da minha alma.
afligem-me os dias escuros que passo sem ti.
assustam-me as madrugadas que passo contigo.
quando não sabiamos o que queríamos éramos felizes?

e o que queremos agora?

sexta-feira, 9 de março de 2012

quinta-feira, 8 de março de 2012

Manifesto Feminino


Ser mulher é ter poder.
Ter o poder de escolhe entre ser mãe, ter uma carreira ou ser mãe e ter uma carreira.
Ser mulher é carregar nove meses um filho no útero.
Ser mulher é ser do mesmo tamanho que o homem, ser mulher é ser vida.
Ser mulher é ter sensibilidade
Ser mulher é ter carácter.
Ser mulher é lutar.
As mulheres são tudo o que quiserem ser, não podem é ficar sentadas na poltrona á espera vida não demore e lhes traga tudo numa bandeja de prata.
As mulheres podem sentar numa cadeira e ensinar.
E governar.
E discursar.
Podem bater o pé.
Podem discutir política e beber café.
As mulheres podem ser arrogantes e frias.
As mulheres devem ser sérias e altivas.
As mulheres gostam de chocolate e de economia.
De flores e de literatura.
As mulher podem ser enormes, podem ser gigantes do Mundo.
As mulheres são poetas e não poetisas.
As mulheres acordam de manhã e conseguem sorrir ao Sol.
As mulheres têm o poder no cérebro e nas ancas.
As mulheres não são só sexo, mas também podem gostar de o fazer.
As mulheres não sabem todas tricotar, nem cozinhar, nem lavar.
As mulheres não gostam todas de compras.
Algumas mulheres até detestam o cor-de-rosa.
As mulheres escreveram, governaram, incentivaram, cuidaram, amaram, lutaram.
Por isso não celebremos o dia da mulher, vamos antes celebrar todos os dias.
Os dias em que as mulheres deixam de ser mulheres e passam a ser vidas.

Raquel Branco